quinta-feira, 14 de outubro de 2021

 A FIDELIDADE DE FIEL E A MINHA INFIDELIDADE

Antonio Possidonio Sampaio

  

Quem na vida não cometeu algum tipo de infidelidade? Você não? Pois eu já. Meu remorso pela mancada foi inclusive tornado público, apesar de não ter certeza de que alguém disso tenha tomado conhecimento, pois a minha confissão está em Andanças na Contramão, meu último livro, esgotado no dia do lançamento e de edição pequena.

Mas voltemos à infidelidade, palavra que os politicamente corretos acham que deveria ser banida do dicionário, assim como o professor de direito penal Ney Moura Teles entende que o conceito de "mulher honesta" deve ser riscado do Código Penal.

Mas como o conceito de infidelidade se ajusta à esfera moral e não à jurídica, com licença dos jus-filósofos, continuo entendendo que qualquer pessoa está sujeita a receber a pecha de infiel por este ou aquele motivo moralmente reprovável.

Fiel mesmo de verdade só conheço um. Ele é freqüentador assíduo do Parque Antonio Flaquer, mais conhecido como Ipiranguinha.

Na minha caminhada mututina da última quarta-feira de cinzas, lá estava ele, aguardando por seus companheiros de caminhada que geralmente chegam ao parque por volta das seis e meia. Às seis, Fiel já era notado nas imediações dos equipamentos para alongamento.

Nessa quarta de cinzas, Fiel estava mais inquieto do que de costume, talvez por que seus companheiros não tenham ido caminhar durante o carnaval ou por outro motivo qualquer. Cheguei a fazer-lhe alguns agrados como estalar os dedos e esboçar sorriso de amizade e reconhecimento, mas nada disso funcionou.

Só com a chegada do Paulo, aquele nisei simpático que cumprimenta todo mundo com um caprichado bom-dia, Fiel sossegou. Correu em direção ao amigo, que o cumprimentou com um delicado toque de mão direita na pata esquerda que Fiel ergueu com estilo que os portadores de pedigree raramente possuem.

Pois é, já confessei no referido livro que fui infiel e acometido de remorso quando substituí o Parque dos Amores, mais conhecido por Duque de Caxias, pelo Ibirapuera. E agora, em reincidência, troquei provisoriamente o Parque dos Amores pelo Ipiranguinha, não só pelo fato de o Duque passar por reformas, mas e principalmente por me sentir tão bem presenciando as lições de fidelidade de Fiel por seu amigo Paulo.

Não tenho intimidade com Paulo nem sei o nome do seu simpático cachorro. Se fosse meu, certamente o chamaria de Fiel. O que você acha?


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