Com certo orgulho, ando a repetir que estudei numa boa
universidade, a USP, mas me formei de fato na luta dos trabalhadores
metalúrgicos do ABC, em cujo Sindicato trabalhei cerca de trinta anos.
Este nariz de cera para lembrar de fatos históricos de
grande importância envolvendo os referidos metalúrgicos, que realizaram entre,
1978 e 1985, quatro grandes greves entre outras menores ocorridas no mesmo
período: a da Scania, em 78; a dos peões, em 79; a dos 41 dias, em 1980, e a “vaca brava”, de
1985, a mais longa do período, com duração de 54 dias.
A histórica greve da Scania, conhecida como a “de máquinas
paradas e braços cruzados”, em seu 20º aniversário, foi tão lembrada que
mereceu até um caderno especial do Diário do Grande ABC.
Já a greve dos peões, ocorrida em março de 1979, teria
passado em brancas nuvens, se o jornalista Ademir Medici, do Diário do Grande
ABC, não houvesse registrado em sua coluna Memória, o dia-a-dia da
paralisação, baseado no livro “Lula e a Greve dos Peões”.
A greve de 1980, tão importante pela duração reveladora da
capacidade de resistência dos metalúrgicos da região, ao que parece também está
fadada ao esquecimento. Eclodida a 1º de abril, durou até 11 de maio de 1980,
após a prisão de vários de seus líderes como Lula, que em seguida se
destacariam com políticos. Na eleição de 82, por exemplo, Gilson Menezes, líder
da greve da Scania, foi eleito prefeito de Diadema; Djalma Bom um dos líderes
das greves de 79 e 80, elegeu-se deputado federal com 164 mil votos. Lula,
candidato a governador do Estado, não foi eleito, mas alavancou a legenda do
PT, fundado havia dois anos.
Como se vê, um acontecimento social, político e econômico
tão marcante, vinte anos depois é totalmente ignorado pela imprensa, inclusive
a local, que tanto espaço dispensou às referidas paralisações.
No seu livro “O ABC da Classe Operária” (Hucitec, 1980),
sobre a greve esquecida, o prof. Octavio Ianni assegura: “A verdade é que a
greve do ABC, em 80, marca o início de uma nova época no desenvolvimento do
processo político brasileiro. A questão da democracia foi recolocada pela
classe operária de uma forma surpreendente, tanto para setores burgueses e
liberais das oposições como para os próprios governantes. Toda a farsa da
‘abertura’, do ‘novo pacto social’, da democratização de cima para baixo, da
reforma das instituições políticas para manter a classe operária e o
campesinato fora do poder, tudo isso foi desmascarado pela greve, pela maneira
pela qual o governo militar e os empresários atuaram”.
Tribuna Popular - 2000