terça-feira, 8 de novembro de 2011

No Porão da Memória

Passo boa parte da tarde desta primeira sexta-feira de novembro de 2011 entre livros e documentos que conservo no Porão, uma espécie de filial da minha bagunçada biblioteca, pois o Refúgio, que Salvador Bahia considera a matriz, há tempo não suporta mais nada.
Na matriz, conservo livros mais recentes, umas poucas coleções que raramente consulto, como a dos laureados Nobel que ocupa mais da metade da última prateleira. Na filial, livros mais antigos, publicações da época da repressão e boa parte da coleção de O Escritor, que a exemplo da Tribuna Metalúrgica (os dez primeiros anos) e Leia Livros, que hoje nem existe mais, convivem com uma visita indesejável – traça. Segundo a senhora que limpa o local, os cupins também estão de volta. E Salvador Bahia tenta me acalmar: é mais um problema para ser resolvido no começo do próximo ano.
Fui ao Porão em busca do jornal o Escritor de junho de 2005, onde transcrevi parte de um diário escrito nos intervalos das atividades do Congresso Brasileiro de Escritores de 1985 – CBE/85, realizado em São Paulo de 17 a 21 de abril daquele ano.
A realização de um congresso com participação de escritores de todo o Brasil e representantes de outros países de expressão portuguesa era um compromisso de um significativo grupo de escritores e intelectuais que desde o começo da década de 80 tinha como objetivo renovar os quadros da UBE, participar da luta de redemocratização do País e valorizar o trabalho do escritor.
No exemplar de O Escritor no começo referido, alinhei, ao lado dos escritores Fábio Lucas e Caio Porfírio Carneiro, os principais acontecimentos do encontro, que deveria ser encerrado por Tancredo Neves, presidente da República eleito que não chegou a tomar posse, pois veio a falecer na mesma data do encerramento do congresso, 21 de abril de 1985, fato que causou grande consternação e perplexidade, pois naquele ano a longa ditadura de 21 anos estava chegando ao fim. O resto da história todos conhecem.
Esse longo nariz de cera para dizer que é com orgulho que participo de um novo congresso a cargo da União Brasileira de Escritores. Digo isso porque no encontro de 1985 chamaram a atenção dois participantes com mais de 80 anos, idade que agora acabo de comemorar. Foram eles: Heitor Ferreira Lima e Helio Silva. Este declarou à imprensa: “Este congresso é um porre de democracia e dele deve sair coisa séria”.
De lá para cá a UBE vem passando por uma série de dificuldades, como o despejo da tradicional sede da Rua 24 de Maio, 250 – 13º andar e outros fatores que certamente virão à tona durante este novo encontro.
No instante em que a atual diretoria da entidade realiza esse tão aguardado congresso em Ribeirão Preto, de 12 a 15 de novembro de 2011, espera-se que o escritor brasileiro, consciente da importância de uma entidade de classe representativa assuma o papel que dele a sociedade espera, como em 1945, quando aconteceu o primeiro congresso marcadamente contra a ditadura do Estado Novo, e o de 1985, buscando novos rumos da convivência democrática.
Os debates e outras manifestações certamente apontarão o caminho a ser seguido.

Um comentário:

dalila teles veras disse...

Olá, meu caro amigo Sampaio,
Não estive no primeiro (não havia nascido) mas estive, com muita honra, ao seu lado e de Valdecirio (trio imbatível), no memóravel II Congresso, quando tive oportunidade de ouvir/ver muitas das maiores figuras das letras pátrias. Inesquecível. Você foi realmente uma peça chave para o êxito daquele encontro. Invejo-lhe o permanente entusiasmo e tento mirar-me nele. Forte abraço e parabéns por este glorioso início nas artes blogueiras, com a velha e afiada pena (ops! tecla) de jornalista competente e sempre atuante.
dalila