quinta-feira, 14 de outubro de 2021

 

A ORATÓRIA E OS CORBIANOS

Antonio Possidonio Sampaio

 

Nos idos de abril de 1957, comecei a freqüentar o CORB - Centro de Oratória Rui Barbosa, que naquela época promovia reuniões aos domingos pela manhã no auditório da Câmara Brasileira do Livro, na avenida Ipiranga, 1267, em São Paulo.

Dedicado ao estudo, à prática e à difusão da oratória, o CORB foi fundado em 1949, ano em que o Brasil comemorava o centenário do nascimento de Rui Barbosa, jurista e tribuno baiano.

A oratória ou estudo da arte de falar em público, hoje mais conhecida como comunicação verbal, na época atraía muitos jovens, estudantes e pessoas de outras ocupações e níveis de cultura.

O ambiente me agradou tanto que acabei freqüentando a entidade por vários anos, vindo a assumir a sua presidência em 1971.

O que mais me atraía no CORB era o pluralismo democrático reinante entre seus associados, denominados corbianos, que a exemplo de outras associações, em 1964 veio a sofrer uma dispersão geral, quando as reuniões eram realizadas no Sindicato dos Bancários, que por causa do golpe militar sofreu intervenção e o CORB mais uma vez ficou sem local para as suas reuniões, situação enfrentada antes e depois do golpe, pois a entidade, sem fins lucrativos, não possuía sede.

Na década de 80 o CORB encerrou suas atividades, mas um grupo de antigos corbianos, incluindo fundadores da entidade, continua se reunindo mensalmente num restaurante no centro de São Paulo, onde, antes, durante e depois do jantar falam de suas experiências na entidade. Eles resolveram escrever um livro em que a história do Centro de Oratória Rui Barbosa será contada com base em depoimentos de antigos corbianos e documentos que em parte se salvaram do tempo e das mudanças.

A mim coube um relato do denominado período áureo do CORB, no começo dos anos 60, quando as reuniões eram realizadas aos domingos pela manhã no auditório Galeão Coutinho, da União Brasileira de Escritores, em São Paulo.

Estudantes de direito e advogados sempre procuraram aperfeiçoar seus dotes oratórios no CORB. Alguns se tornaram professor da matéria, como Antonio Fernandes Neto e João Meireles Camara, aquele autor do livro "Comunicação e Persuasão", e o último autor das obras "No Plenário do Juri", "Técnicas de Oratória Forense e Parlamentar" e "Estratégia da Palavra", este dedicado aos colegas de turma (1972) do autor, na Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo.

Outros professores de oratória começaram no CORB, com Stefanio de Faria Alves, Gualter Brasiliense, Mário Luiz Pereira de Souza e Carlos Aurélio da Mota de Souza, que foi juiz titular da 3ª Vara Cível de Santo André.

Nos anos 60 e 70, Fernandes Neto e Meireles Camara, respectivamente, ministraram cursos de oratória em Santo André (no Sindicato dos Metalúrgicos), na Faculdade de Direito de São Bernardo e no auditório do Teatro Municipal. Na região ainda existem ex-corbianos, como Zoilo de Souza Assis, o casal Valdecirio e Dalila Teles Veras, Valdenízio Petroli, Odilon Soares de Oliveira, o autor desta materia, Alexandre Takara e tantos outros que a memória não ajuda registrar.

Dia desses um antigo corbiano me perguntou: por que alguém do ABC ainda não se lembrou de fundar na região algo semelhante ao CORB?

Eis ai uma pergunta que certamente poderia ser melhor respondida por pessoas mais jovens, principalmente estudantes de direito ou mesmo advogados e outros profissionais que usam a palavra como instrumento de trabalho e difusão de suas ideias.

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